Neste ano de 2021, a obra Comunicação Não Violenta, de 2016, autoria de Marshall B. Rosenberg, permaneceu por alguns meses nas listas de livros mais vendidos no Brasil. Este é um livro estudado por mediadores e seu conteúdo é muito utilizado para transformar a comunicação dentro de equipes em empresas.

E quais são, então, as formas de nos comunicarmos? A Teoria da Pragmática da Comunicação Humana, proposta, em 1973, por Watzlawick traz cinco axiomas fundamentais para a comunicação:

  1. É impossível não se comunicar: isto é, todo o comportamento é uma forma de comunicação.
  2. Toda comunicação possui uma forma e um conteúdo: ou seja, toda a comunicação tem, além do significado das palavras, outras informações.
  3. A natureza de uma relação está na contingência de pontuação das sequências comunicacionais entre os comunicantes: o emissor e o receptor da comunicação estruturam a comunicação de forma diferente, e dessa forma interpretam o seu próprio comportamento durante a comunicação dependendo da reação do outro.
  4. Os seres humanos se comunicam digital e analogicamente: o verbal, aquilo que é dito (comunicação digital); a forma como é dito, o não verbal, que demanda tradução, o autor conceitua como analógica.
  5. Todas as permutas comunicacionais ou são simétricas, ou complementares, se baseiem na igualdade ou na diferença.

A comunicação, portanto, extrapola as palavras. Quando compreendemos os axiomas apresentados acima, nos damos conta de que a comunicação humana é um conglomerado de habilidades. A comunicação não verbal é, assim como a verbal, uma ferramenta no processo de disseminar a comunicação não violenta, gerando maior empatia e conexão entre as pessoas.

Embora existam várias definições, por diversos pesquisadores, do conceito de comunicação não verbal, gosto da classificação de Knapp, que a segmentou em: movimento corporal ou cinésica (emblemas, ilustradores, expressões de afeto etc.); características físicas; comportamentos táteis; paralinguagem (qualidades vocais e vocalização); proxêmica (estudo das relações de proximidade e distância entre pessoas e objetos durante as interações); artefatos utilizados e o meio ambiente.

Ekman e Friesen realizaram, em 1969, um estudo sobre as expressões faciais, identificandoseis delas, classificadas como expressões faciais básicas. Depois, em 1986, extrapolaram, buscando também as expressões corporais, gestos e posturas e chegaram a seguinte afirmação:

As expressões corpóreas utilizadas de forma consciente ou inconsciente, é fato, traduzem mensagens que influenciam o entendimento a respeito da informação que está sendo transmitida, bem como a percepção a respeito daquele que a emite.

A comunicação não verbal é, portanto, importante e desafiadora, pois abre prismas de leitura pelo receptor da mensagem, prismas estes que são individuais e comportam julgamentos, podendo gerar ruídos. A intenção das mensagens é de propriedade do emissor; as interpretações de quem as recebe podem estar equivocadas.

Boa parte de uma comunicação, conforme exposto, se dá através das expressões faciais e corporais. Essas exteriorizações, às vezes muito mais que palavras, revelam estados emocionais, necessidades e intenções dos indivíduos. O cuidado com a nossa comunicação não verbal e com a compreensão da do outro é importante em toda interação social. Conhecer o quanto o não verbal representa em nossa comunicação traz mais domínio e cuidado no envio das nossas mensagens e mais empatia na recepção e resposta àquelas que recebemos.

Muitos conflitos que chegam à mediação são gerados por ruídos na comunicação. Um mediador atento também à comunicação não verbal, assumindo a postura do não julgar e com imparcialidade, busca entender a mensagem que, eventualmente, tenha sido transmitida. Davis afirma que no processo de mediação “a parte visível de uma mensagem é, pelo menos, tão importante quanto a audível”.

Durante a pandemia, o espaço digital se tornou o meio de comunicação mais usado para reuniões e eventos sociais. E isso também aconteceu no contexto das mediações. Neste ambiente, a comunicação não verbal ganhou uma importância singular. Por exemplo: em uma mediação on-line multipartes que facilitei recentemente, sinais não verbais foram sugeridos, tiveram seus significados alinhados e combinados entre as partes, o que colaborou com a produtividade das conversas.

A comunicação não verbal é um dos elementos-chave a ser observado nas conversas produtivas e improdutivas. Cabe a cada um de nós tomar consciência do que e como fazemos com o nosso não verbal, para que, de forma consciente, possamos utilizá-lo a favor da produtividade das conversas. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que a nossa interpretação do não verbal do outro é uma leitura que carrega suposições, nem sempre verdadeiras. Compreendendo todo esse espectro, conseguiremos cuidar da nossa comunicação não verbal e receber a do outro, sem julgamentos e, como propõe Marshall, de forma não violenta e com compaixão.